segunda-feira, 2 de junho de 2008

Ryan McGinley - Juventude em Marcha




Romantismo, hedonismo, erotismo... As fotografias dizem o resto.

“I know where the summer goes” é titulo de uma música do grupo Belle and Sebastian. E foi com ela que Ryan McGinley baptizou as imagens que fotografou durante o verão de 2007.
Atravessou os Estados Unidos com 16 modelos e 3 assistentes: desenhou caminhos, reservou hotéis, descobriu paisagens.
Decidia antes de adormecer quais seriam os sentimentos que dariam ritmo à equipa fotografada e no dia seguinte juntava-lhes efeitos especiais - fogo de artificio, máquinas capazes de fabricar nevoeiro. Esse verão foi feito de corridas... Por estradas e bosques... Ryan e os seus modelos passaram meses juntos a tentar criar uma vida imaginária, confrontando corpos nus com a natureza.
Foi assim que nasceu a exposição que inaugura em Nova Iorque no próximo dia 2 de Abril, na Team Gallery. Tirou 4000 mil rolos de fotografia, escolheu 50 imagens.

Ryan McGinley nasceu em 1977 em New Jersey, durante a adolescência foi viver para Manhattan, onde estudou design gráfico. A meio do curso decidiu mudar de especialidade, enveredando pela fotografia. Tinha lembranças de uma biblioteca no liceu, onde costumava ver livros do National Geographic, adorava fotografias de tribos africanas, foram elas que inspiraram a vocação que viria a descobrir anos mais tarde. Durante o curso de fotografia começou a coleccionar imagens de amigos, artistas como Dan Colen e Dash Snow. Nas ruas de East Village, andava de skate e máquina fotográfica na mão, os outros desenhavam graffiti nas paredes, mergulhavam na praia, faziam amor para a objectiva dele.
A estética de McGinley segue a mesma linha de dois grandes nomes da fotografia Americana, dois fotógrafos conhecidos pelo fundo real dos momentos que fotografam - Larry Clark e Nan Goldin. Mas o universo de McGinley não é sustentado por sentimentos tão tristes, o quotidiano aparece de maneira mais poética, existe uma luz de esperança pouco vista no trabalho dos seus antecessores. Assumiu a visão de um mundo que não acaba destruído por drogas e álcool, a leveza de uma geração que experimenta a vida sem limites. Em 1999, mandou para uma centena de artistas e editores de revistas um livro - “The Kids Are Alright”. Seria de imediato convidado a colaborar com a revista Índex, seguindo-se a Fanzine gay Butt, as revistas Vice, I-D e Dazed & Confused. O entusiasmo gerado pelo trabalho de McGinley não parou de crescer: em 2003 era o artista mais novo de sempre com direito a uma exposição individual no Whitney Museum of Art, tinha 26 anos. Os modelos que escolhe são sempre amigos ou amigos de amigos e têm de ser artistas, personalidades criativas. Gosta de fotografar miúdos que decidiram ir viver para a cidade, gosta da energia que essa decisão implica, principalmente quando se trata de pessoas que se mudaram para Nova Iorque - é uma cidade para bravos. Os corpos são depois tirados do elemento onde se habituaram a viver, despe-os num fascínio que o persegue. Sempre gostou da nudez, sempre foi algo que atraiu a sua atenção, independentemente do contexto em que ela se apresenta (pode ser uma mulher que dá a luz ou um casal em acção num filme pornográfico). Na adolescência vibrava com as músicas do cantor Morrissey. Com 16 anos ficava sentado dias seguidos sem perceber de onde vinha a magia da voz longínqua que lhe mexia com os sentimentos. Nas letras abordava questões que eram tão pessoais, Morrissey parecia ler os pensamentos de Mcginley adolescente. O ano passado expôs fotografias que tirou durante concertos do cantor, seguiu-o numa tourneé mundial. Ainda antes de ter autorização para o fotografar, McGinley escondia máquinas fotográficas nas meias, precipitava-se na multidão para fotografar o desespero de fans. Gritos, lágrimas e encores ficaram guardados. O trabalho de McGinley é completamente instintivo, por isso tão real. Imagens que retratam de forma perfeita a geração que dizem estar perdida, sem valores. Nelas, miúdos como ele sonham, conscientes, sabem que sonhar é uma forma de liberdade. A música de que mais gosta é “There’s a Place in Hell for me and My Friends”*, Morrissey diz que se alguma vez quiser só chorar... Vai chorar... sabe que o pode fazer, se quiser.
Tiago Manaia
Fanzine Blah, blah, blah- Luxfrágil Abril 2008

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