terça-feira, 24 de junho de 2008

O realizador de Videoclips - Patrick Daughters




Este jovem realizador Americano de 31 anos é o próximo nome à gravar - na memória, disco rígido, ipod ou DVD.

O videoclip que mais viajou este ano entre emails e declarações de amor youtube, terá sido «1234» de Feist. A presença da cantora e as imagens simples deram vida ao mundo dos videoclips, desfeito pela crise que abalou a indústria discográfica.

As alternativas de visionamento propostas pela internet, provocaram investimentos reduzidos por parte das editoras, forçaram uma aposta na simplicidade de ideias. Os videoclips são agora vistos com definições minúsculas em ecrãs de computador ou pequenos ipod.

O universo do videoclip tinha elegido há já alguns anos protagonistas de uma geração, realizadores que tinham uma assinatura especial, eram poucos.

Michel Gondry e o estilo artesanal, Chris Cunningham e as criaturas inventadas, Mark Romanek nas visões futuristas, Spike Jonze e a originalidade cómica, Stéphane Sednaoui e as imagens de gelo, Anton Corbijn no preto e branco perfeito e Jean-Baptiste Mondino em outsider reinventado. Todos tiveram direito (à excepção de Mondino) a uma compilação DVD que celebrava na íntegra carreiras em evolução, dando destaque a um género de ficção apreciado mas pouco reconhecido.

O clip de Feist é genial no conceito, um único “take” capaz de captar graça e euforia, uma cantora e dezenas de bailarinos numa coreografia espalha-alegria, música é embalada pela força lírica das imagens.

Feito como uma homenagem ao trabalho do realizador de comédias musicais Busby Berkeley, não se fica indiferente à simplicidade - o armazém sem cenário de «1234» está repleto de emoção, “ao fim do dia sentíamos todos que tínhamos sido testemunhas de algo especial” explicava Patrick Daughters na conferência do LA Film Festival.

Daughters estudou realização e psicologia na NYU em Nova Iorque e entrou neste mundo a pedido de um antigo colega de escola, membro dos Yeah Yeah Yeahs - «Date With The Night» foi o primeiro vídeo que realizou. Na colagem de imagens de bastidores e performances ao vivo, o ritmo é conseguido nos cortes, na maneira como são montados.

 No mesmo ano, realizou ainda «Maps» também para os Yeah Yeah Yeahs, o universo de Patrick Daughters começava a desenhar-se, um misto de realidade que se dissipa em sonhos de música, parecem contos, que depois voltam a ser realidade.

Esquecem-se os efeitos que impressionam, Daughters é fascinado pela imagem, mas gosta de lhe dar um sabor banal. Apoia-se muitas vezes na emoção dos intérpretes que atravessam os longos takes sem cortes que cria, guarda os momentos comovidos. O passeio de Beck em «Náusea», numa avenida que lhe foge, a corrida e exaustão de Feist num tapete de aeroporto («My Moon, My Man»), os reflexos espelhados da casa-corredor dos Interpol, a emoção que lhes transparece no rosto, desarma-nos enquanto espectador.

Inventar brilho sem esquecer a realidade, é o toque mágico de Daughters, por isso guarda momentos de som directo do que se passa no “plateau”, misturando imagens perfeitas com vozes e ruídos que se sobrepõem ao playback da canção.

Quando lhe são dados meios mais ambiciosos, no caso de «Phantom Limb» dos The Shins, ele explora-os de forma naif - é com crianças que conta os horrores feitos ao longo da história, a inquisição e as batalhas da idade média num jogo infantil. Patrick Daughters parece querer sempre lembrar, tudo não passa de um jogo. O melhor exemplo é o último clip que fez para os Yeah Yeah Yeahs - «Turn Into», Karen O. brinca com um espelho de bolso, e é ele –o espelho- o responsável por todos os delírios luminosos que acontecem no quarto vazio onde canta. Patrick pertence a um núcleo de realizadores, The Directors Bureau, que protege talentos como Sofia e Roman Coppola, Shynola e Melodie Mc Daniel. Seguindo os passos de Spike Jonze (Being John Malkovich), Michel Gondry (Eternal Sunshine of The Spotless Mind) e Mike Mills (The Thumbsucker), também ele se prepara para atacar a ficção no formato longa metragem.

Um buraco na parede pode ser uma porta para um mundo novo, no universo de Daughters, o vazio que se sentiu na indústria discográfica, ajudou-o a afirmar-se.

A tecnologia está cada vez mais desenvolvida no que trata a música, mas a vontade de a comprimir, de a levar para todo o lado, faz com que se esqueçam detalhes. Patrick Daughters brinca com isso, a declaração feita com vídeo de Feist tem efeitos ópticos elaborados e retoques computorizados. Aquilo que parece ser o videoclip mais simples do ano, tem tudo de um conto de fadas. No mundo dele as coisas começam assim, a apontar ideias num caderno...

 

Tiago Manaia

 Texto publicado na fanzine do lux- Blah, Blah, Blah. Dezembro 2007




 

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